segunda-feira, 24 de setembro de 2012

"VOTO CONSCIENTE,ELEIÇÕES 2012"

Voto limpo

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Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá (PR)
O exercício da cidadania não depende de gosto pessoal, é um dever de todos. Principalmente neste tempo que nos é dado para exercer o dever e o direito de escolha, por isso você e eu temos na mão e no coração um poder chamado “voto”.
Cidadania não se exerce dizendo coisas do tipo “não vou votar”, “não gosto de política”, “política é coisa suja”..., pensando assim os políticos malandros agradecem.
Para esta reflexão cito Platão: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.
Se vamos só pelo gosto pessoal, corremos o risco de  manter no poder os “profissionais” da política. Passa ano e sai ano e são sempre os mesmos. Por isso temos que defender o voto limpo, consciente. Limpo da corrupção, das artimanhas, das promessas ou ameaças. Voto limpo sai de uma mão limpa e de uma consciência limpa.
Todos somos obrigados por lei a ir às urnas no próximo dia sete de outubro. É uma obrigação que nos leva ao compromisso democrático, definindo os rumos das nossas cidades e de nosso país. Omitir-se significa deixar os incompetentes, os homens e mulheres afeitos à vida pública, determinar os destinos de todos nós. “Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem” (Bertold Brecht).
Neste sentido o voto em branco é um grave ato de omissão, com consequências graves para toda a sociedade. Essa reação do voto em branco ou nulo, uma das razões, vem do grande número de candidatos sem nenhum preparo que nos programas de rádio e TV, se apresentam como os maiores e melhores salvadores da pátria. “Talvez a política seja a única profissão para a qual pensem que não é necessário preparo” (Robert Louis Stevenson).
Ir às urnas é sinal de que queremos mudanças e vida plena para todos. A forma mais concreta de protestar em favor do bem comum está nas urnas e na sua consciência de cidadão. Por isso fica descartado o voto nulo. Anular o voto significa anular a sua cidadania. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz que não usar as capacidades para transformar a realidade para melhor é homicídio. “Todo aquele que se der em práticas desonestas e mercantis que provoquem a fome e a morte de seus irmãos de humanidade comete indiretamente um homicídio que é de sua responsabilidade” (CIC 22690). Buscar caminhos, entrar na dinâmica da vida, somar com a coletividade em vista do bem maior de todos, faz a diferença.
A mudança de mentalidade em ralação à política e seu valor necessário para a sociedade, não se faz com discursos e sim com a mudança da prática. “É a mudança de prática e não apenas de discurso que vai criar uma nova confiança no agente político. Uma prática que se mostra na transparência de seus atos e de suas relações.  Só uma prática firme e condizente com seus princípios vai lhe trazer a confiança perdida”(Doc. 91 CNBB, nº. 39).
Política não é cabide de emprego e muito menos lugar para se viver comodamente. “Não se pode ir para o mundo da política com quem quer resolver os seus próprios problemas, mas como quem coloca como objetivo máximo o fazer com que um rosto humano se revele em cada homem e mulher”(Doc. 91, CNBB nº 40).
Votar é participar, participar é construir um mundo cada vez melhor. Vote limpo e teremos uma cidade limpa, ordeira, promissora, e digna pra todos.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

Eleições municipais de 2012
Mensagem da CNBB

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunida em sua 50ª Assembleia Geral, em Aparecida-SP, de 18 a 26 de abril de 2012, saúda a população brasileira, em sintonia com os importantes acontecimentos que marcam o país neste ano, especialmente as eleições municipais no próximo mês de outubro. Expressão de participação democrática, as eleições motivam-nos a dizer uma palavra que ilumine e ajude nossas comunidades eclesiais e todos os eleitores, chamados a exercerem um de seus mais expressivos deveres de cidadão, que é o voto livre e consciente.
Inspira-nos a palavra do papa Bento XVI ao afirmar que a sociedade justa, sonhada por todos,
"deve ser realizada pela política" e que a Igreja "não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça" (Deus Caritas Est 28). Para o cristão, participar do processo político-eleitoral, impulsionado pela fé, é tornar presente a ação do Espírito, que aponta o caminho a partir dos sinais dos tempos e inspira os que se comprometem com a construção da justiça e da paz.
As eleições municipais têm uma característica própria em relação às demais por colocar em disputa os projetos que discutem sobre os problemas mais próximos do povo: educação, saúde, segurança, trabalho, transporte, moradia, ecologia, lazer. Trata-se de um processo eleitoral com maior participação da população porque os candidatos são mais visíveis no cotidiano da vida dos eleitores. A sua importância é proporcional ao poder que a Constituição de 1988 assegura aos municípios na execução das políticas públicas
Nos municípios, manifestam-se também as crises que o mundo atravessa, incluindo a própria democracia. Isso torna ainda mais importante a missão de votar bem, ficando claro para o eleitor que seu voto, embora seja gesto pessoal e intransferível, tem conseqüências para a vida do povo e para o futuro do País. As eleições são, portanto, momento propício para que se invista, coletivamente, na construção da cidadania, solidificando a cultura da participação e os valores que definem o perfil ideal dos candidatos. Estes devem ter seu histórico de coerência de vida e discurso político referendados pela honestidade, competência, transparência e vontade de servir ao bem comum. Os valores éticos devem ser o farol a orientar os eleitos, em contínuo diálogo entre o poder local e suas comunidades.
Ajudam-nos nesta tarefa instrumentos como as Leis de iniciativa popular 9.840/1999, contra a corrupção eleitoral e a compra de votos, e 135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa, cuja constitucionalidade foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal. Aos eleitores
cabe ficarem de olhos abertos para a ficha dos candidatos e espera-se da sociedade a mobilização, como já ocorre em vários lugares, explicitando a necessidade de a "Ficha Limpa" ser aplicada também aos cargos comissionados para maior consolidação da democracia. Desta forma, dá-se importante passo para colocar fim à corrupção, que ainda envergonha o nosso país.
O exercício da cidadania, no entanto, não se esgota no voto. É dever, especialmente de quem vota, a corresponsabilidade na gestação de uma nova civilização, fundamentada na defesa incondicional da vida, desde a fecundação até a morte natural; na promoção do desenvolvimento sustentável, possibilitando a justiça social e a preservação do planeta.
A educação para a cidadania é processo permanente. Para ela contribuem as Escolas e Grupos de Fé e Política que se multiplicam pelas dioceses do Brasil, além das variadas publicações de conscientização política. Entre estas, recordamos o Documento 91 da CNBB – Por uma Reforma do Estado com Participação Democrática e a Cartilha
Eleições Municipais 2012: Cidadania para a Democracia, elaborada por organismos da CNBB. Exortamos nossas comunidades e lideranças a lançarem mão destes valiosos instrumentos, a fim de que participem conscientemente das eleições e assegurem a unidade em meio às diferenças próprias do sistema democrático. Merecem nosso apoio e incentivo, ainda, campanhas como a que estimula os jovens a exercerem responsavelmente seu direito de votar já a partir dos 16 anos.
Para o cristão, participar da vida política do município e do país é viver o mandamento da caridade como real serviço aos irmãos, conforme disse o Papa Paulo VI: "A política é uma maneira exigente de viver o compromisso cristão ao serviço dos outros" (Octogesima Adveniens, 46). Só assim, seremos "fermento que leveda toda a massa" (Gl 5,9).

Que Nossa Senhora Aparecida abençoe o povo brasileiro e ilumine candidatos e eleitores no exigente caminho da verdadeira política.


Aparecida, 21 de abril de 2012. Raymundo Cardeal Damasceno Assis

Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão – MA
Vice-presidente da CNBB
Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília - DF
Secretário Geral da CNBB