terça-feira, 2 de outubro de 2012

A Bíblia na missa da comunidade


Pe. MANOEL Barbosa Santos
Vigário Episcopal e Pároco de São José

02/10/2012 - 09:30

Graças a Deus, cresce cada vez mais na Igreja Católica a compreensão de que os cristãos leigos precisam ter, se familiarizar, conhecer e colocar em prática a Bíblia, Palavra de Deus. Na “Exortação Verbum Domini”, o Papa Bento XVI enfoca muito esse aspecto prático do contato com a Palavra, chegando mesmo a falar da necessidade de uma” Pastoral da Bíblia” (Cfr. Nº 73).
Todos estamos de acordo de que é preciso a Bíblia estar mais na mão dos católicos para que, pouco a pouco, chegue mais aos corações. O Problema consiste no como fazer isso. Nas Pastorais, nos grupos de oração, em estudos formativos...? Sim, certamente! Porém é dado concreto que, em média, setenta por cento ou mais do nosso povo não frequenta pastorais, grupos de oração, muito menos cursos de formação. Constatando tal realidade, como fazer para tornar concreto esse projeto de viabilizar o uso da Bíblia?
Sabemos que nos primórdios a Palavra era tão somente proclamada na sagrada Liturgia, o povo escutava e acolhia com devoção e interiorização. Agora vivemos na era da civilização do “ver”, não mais do “ ouvir”.São Paulo diz que a fé entra pelos ouvidos e chega ao coração. Certamente ainda é preciso anunciar e pregar a Palavra, mas também sabemos que as pessoas querem fazer a experiência de ver, não somente quem prega, não somente o altar ou as ferramentas litúrgicas, mas tem necessidade de verem alguma ilustração do conteúdo pregado ou ensinado, de terem algum contato sensorial com o objeto apresentado, para a assimilação e a aprendizagem. Daí que se inventou “Jornalzinhos de missas”, “ Liturgias diárias”, etc. Esses meios são,na verdade,uma faca de dois gumes”,pois podem ajudar em sentido pedagógico:acompanhar os textos,responder às orações... mas,em geral,sempre deixam uma conotação de “descartável” à Palavra de Deus.Por isso que logo após as celebrações sempre os encontramos jogados por cima dos bancos,no chão ou,ainda pior,no lixo. Mesmo durante as celebrações podemos observar que muitos os tem nas mãos,mas nem olham,não acompanham o que está escrito ou mesmo os usam para outros fins!
Caso ajudemos as pessoas a usarem a Bíblia na Liturgia da Palavra ( a primeira parte da missa), é bem diferente a situação. Elas vão perceber que o que está sendo proclamado e celebrado é, de fato, a Palavra de Deus. Não se trata de “recortes”, enfeites, quaisquer artefatos. Por isso, não vão jogar a Palavra no chão ou no lixo. Vão protegê-la nas mãos e, aos poucos, guardá-la no coração.
Ao contrário do que alguns parecem pensar, não somos tão ignorantes em matéria de Liturgia. Não aprovamos nenhum tipo de “bagunça” nas missas e nas orações! O que desejamos é que as pessoas tenham melhor percepção do que se celebra e se voltem mais para o amor e o testemunho da Palavra Sagrada. É claro que toda a Liturgia da Palavra se desenvolve centrada na Bíblia: a primeira Leitura, o Salmo, a segunda Leitura e o texto do Evangelho. Quem vai proclamar do altar deve fazê-lo pelo Lecionário, sabemos disso, mas quem está na Assembleia pode acompanhar, de modo mais vivencial, usando o exemplar da sua Bíblia.
Na prática, algumas experiências já vem acontecendo, de modo bastante tranquilo, coloco aqui apenas um exemplo muito singelo, de forma metódica:
1ª) Coloca-se um pequeno quadro com as citações dos textos bíblicos da Liturgia do dia,bem na entrada de acesso à Igreja;
2ª) A equipe ou o ministério de Acolhimento,juntamente com a Pastoral da Bíblia ( se houver),convida as pessoas a ,se quiserem,observarem o quadro;
3ª) O comentarista ou presidente faz alerta sobre os textos bíblicos para a Assembleia;
4ª ) Caso se disponha de algum outro recurso didático,como datashow, também se pode visualizar melhor as citações;
5ª) melhor parece ser ajudar as pessoas a ouvirem acompanhando na Bíblia o texto do Evangelho;
6ª) Tudo isso se faz em espírito de oração e humildade,sem pressão e sem “fanatismo”,é um convite,uma proposta,uma experiência.Mas que dar muitos frutos bons,podem ter certeza!
Que todos nós e os estudiosos da Bíblia, da Liturgia, da Espiritualidade e da Pastoral, possamos dialogar melhor (uma espécie de ecumenismo interno), para o bem de todo povo católico.

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